"'(…) Este Dia Completei Eu para vós a vossa reivindicação (religião) e Aperfeiçoei sobre vós a Minha Graça , e para vós Aprovei a Pacificação (o Islão) como credor (religiosidade) (…)' (Alcorão/Capítulo 5, versículo 3). Este versículo é o último a ter sido revelado, o ponto final da Revelação. O Islão, última religião revelada, era inteiro e aprovado como tal a partir deste dia. Qualquer acréscimo posterior a esta revelação decorre das múltiplas circunstâncias da história dos muçulmanos, e não pode ser considerado como fazendo parte do cânone do Islão. Dizer o contrário, é enunciar que a Religião não tem fé complementada na revelação deste versículo, contrariamente ao que ele afirma."
"A injunção de Deus “Diz!” é repetida trezentas e trinta e duas vezes no Alcorão (na maioria das vezes, esta injunção é destinada ao Profeta). E esta injunção divina, tantas vezes reiterada, é inerente à transmissão contínua da Mensagem bem entendido (bem compreendido). É o que disse o Profeta de maneira certa, é o que que Deus lhe ordenou de dizer por revelação, no Alcorão. “Estes são os Sinais (Versículos) de Deus que Nós te Repetimos com verdade. Em que depois, rejeitando discurso (ḥadîthin), de Deus e Seus Sinais (Versículos), crerão eles?” (Alcorão/Capítulo 45, versículo 6)."
"Quanto à sunnah, a tradição, moda dos feitos e gestos do Profeta, encontramo-la também, e mais autenticamente, no Alcorão. Ele é aí qualificado de homem de grande criatividade, de moralidade, encontramos aí relatado o que ele deve dizer ou fazer. A palavra ”sunnah“, moda, é citada dezasseis vezes no Alcorão (catorze vezes no singular e duas vezes no plural), em referência a Deus ou aos antigos antes do Profeta, nem uma única vez em ligação com o próprio Mohammad. Quer dizer que quando um ḥadîth, uma sunnah ou sîrah, do Profeta, são úteis cientificamente, devem ser considerados circunstancialmente."
"As compilações de tradições são então decorrentes de uma multitude de acontecimentos e circunstâncias vividos pelos muçulmanos após a morte do Profeta, e representam conceções ideológicas, políticas e sociológicas relacionadas com as suas épocas. Os seduzíveis e os adversários do Islão aproveitam estas compilações de conteúdo incerto e validam-nas para aprender aí o que serve os seus desígnios; e é desta forma que desvirtuam e o Islão."
"Sem realmente ter em consideração a Mensagem original do Islão, muito menos os dados históricos e sociológicos ou os fatos circunstanciais de época, de local, de causa e de finalidade, os tradicionalistas reavivam o ḥadîth, o que teria dito o Profeta, para legitimar as suas ideologias e as suas interpretações do Alcorão. Contudo Deus diz: “Nem ele fala de seu próprio desejo – Nada mais é que uma revelação que é Revelada ” (Alcorão/Capítulo 53, versículos 3-4). Constatamos por estes versículos que não podemos certificar como declaração do Profeta que o que lhe foi revelado por Deus, a saber o Alcorão."
"Muitos estão entrincheirados em múltiplas fações, excomungando-se mutuamente, abandonando a Mensagem original e universal do Islão, interpretando o Alcorão sem beber da sua essência, porque perderam e esqueceram o coração, em proveito de tradições incertas, discutidas e discutíveis “E entre os homens há o que disputa no que respeita a Deus sem conhecimento ou guia ou um livro esclarecido” (Alcorão/Capítulo 22, versículo 8)."
"Os historiadores, de todas as disciplinas, enunciadores (especialistas dos dizeres atribuídos ao Profeta) incluídos, debatem ainda hoje em dia a validade histórica destas tradições. Apesar disto, para muitos muçulmanos, elas sobrepõem-se ao Alcorão, tornado-e a fonte do que os divide."
"As atuais instituições religiosas perpetuam, incentivam e difundem o tradicionalismo ideológico, o ritualismo e conformismo; elas não têm como prioridade defender a Mensagem original do Islão enunciada e veiculada no Alcorão do e pelo Profeta, sobre o tradicionalismo inaugurado depois dele e instituído como religião desde então. Está na hora dos muçulmanos fazerem esta distinção, encontrarem o significado original do Islão e consequentemente, reformularem."
"Aprendi o Alcorão, o ḥadîth, a sunnah/sîrah, a teologia e a jurisprudência através do ensino e da visão de grandes doutores (ΣUlamâ), referências em matéria de tradicionalismo. Consequentemente, tornei-me eu próprio tradicionalista (moderado؟) durante algum tempo. Contudo, quando me especializei e estudei, entre outras, a historiografia, reabri então o Alcorão com uma abordagem científica pluridisciplinar; qual não foi a minha estupefacção ao descobrir que a Mensagem original do Islão enunciada no Corpus se opõe seriamente a muitas das asserções incluídas nas escritas múltiplas da tradição, sendo que estas constituem a base da ideologia tradicionalista."
"O Islão, motor por excelência do teísmo, está longe de estar enfraquecido, sendo que ele tem vindo a desenvolver-se e a disseminar-se por todo o planeta. A sua influência tem vindo a propagar-se assiduamente a todas as nações, misturando-se com as suas particularidades étnicas, sociais e culturais. Seria, portanto, irresponsável ignorá-lo e minimizar o seu alcance, deixando-o perigosamente sob a influência do ultra-tradicionalismo e seus desvios, ideológicos e práticos, totalmente contrários à Mensagem original do Islão."
O Sol levanta-se a ocidente (8ª edição – 2017) de Farid Gabteni